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sábado, 15 de março de 2014

Capitulo 2


Quinta feira, dezessete horas e lá estou eu no metro ou tubo como alguns gostam de chamá-lo. Lá estou eu voltando para casa depois de mais um dia de pesquisas para a UCL sobre uma família de ex combatentes da primeira guerra. Há duas meninas em minha frente camuflando um exemplar de 50 tons de liberdade atrás de um livro de álgebra, elas soltam suspiros e risadinhas de vez em quando e enquanto as observo, imagino se algum dia algum livro meu seja capaz de causar tais reações nas pessoas, mas logo me recolho a minha insignificância e digo mentalmente para mim mesma, “Não, não será, a menos que crie um personagem tão ou mais pornográfico que Grey”. O que é obvio, jamais conseguiria, e é isso que as adolescentes procuram hoje em dia, algo proibido. Algo absurdamente constrangedor que não possa ser lido em um metro, a menos que ele esteja escondido atrás de algo no qual as pessoas jamais desconfiaram.


- Você viu isso? – Diz um senhor em inglês enquanto bate seu braço no passageiro ao lado. – O Barcelona não desiste mesmo de levar esse garoto. – Ele balança o jornal e mesmo sem ver a foto impressa no mesmo, sei que estão falando de David. – Aposto que Mourinho dará uma boa resposta a eles. – Continua ele, agora mudando de página, já que seu suposto amigo está mais interessado em cochilar do que pensar em respondê-lo.

***


Quando toco meus pés na calçada enfrente ao nosso prédio, me permito observa-lo por longos segundos, imaginando como será minha vida quando Manuela finalmente se casar e eu, é claro, precisar procurar outro lugar para morar.

- Ainda bem que ninguém pode ouvir seus pensamentos, Emily. – Digo em voz alta, imaginando a possibilidade de David poder ouvir tudo que penso ou talvez meus planos de alugar um pequeno estúdio perto do trabalho, ou qualquer lugar que seja acessível ao que posso pagar no momento, com meu ainda salário de historiadora.

O livro que escrevi sobre Brailey me rendeu algumas libras. Claro que não foi nada demais, e deixei David encomendar apenas mil tiragens para vender nas livrarias de Londres, já que, obviamente meu livro não se tratava de nenhuma literatura de mulherzinha e provavelmente ficaria encalhado durante anos, apenas acumulando pó nas estantes da vida... Mas eu estava um tanto enganada e ele vendeu mais do que mil exemplares e o dinheiro que acabei ganhando foi parar no hospital onde David e eu dançamos pela primeira vez. O que foi, claramente, muito romântico de minha parte, mesmo que ele não saiba de nada disso, porque morro de vergonha de admitir que aquela tarde dançando com ele em meio a milhares de bolhas de sabão, fora o melhor dia de minha vida até agora, melhor até mesmo que nossa primeira vez... Mas essa história fica para depois, é muito cedo para entrar nesse campo minado.


- O que está fazendo para ai, está congelando. – Ouço a voz de Manuela atrás de mim e me viro para olhá-la.

- Vou sentir falta daqui. – Digo voltando a olhar para o prédio e toda movimentação em volta dele

- Não estou gostando desse papo. – Diz ela com uma sacola pequena na mão e um mapa na outra. – Vamos para dentro, preciso mostrar os planos para o nosso final de semana. – Sussurra com a voz rouca carregada de euforia, animação e muito, muito frio!

Há três lugares marcados no mapa posto sobre a mesa da sala, ou melhor, há três países marcados no mapa com um adesivo verde escrito “ Com certeza” e outros dois com um adesivo amarelo escrito “talvez”. Inglaterra, França e Itália carregam os verdes. Alemanha e Espanha, os amarelos. E enquanto estou sentada ao lado da mesa onde Manuela se debruça sobre o mapa e bate suas unhas no mesmo mudando a posição dos adesivos, várias e várias vezes, penso que talvez esteja criando uma tática para descobrir onde estão os bares que ela ainda não frequentou, mas depois de raciocinar um pouco chego a conclusão de que ela só está tentando decidir para onde vai na lua de mel.

- Nós vamos fazer uma pequena tour. – Grita ela de repente me assustando enquanto bate palminhas, completamente eufórica.

- De lua de mel? – Essa é nova, e só podia ter partido da cabeça oca da minha prima. – Que legal! – Tento ser otimista e levanto meus dois polegares pra ela parecendo uma completa idiota.

- Não, de chá de lingerie... – Ela da um tapa em minhas mãos e solta um sonoro... – Derrrt!

- Como assim? – Olho de soslaio para a cozinha e posso ver Maria encostada a porta balançando a cabeça negativamente como se estivesse pensando “Meu deus, essa menina não cansa de ser maluca”

- Ah eu tentei marcar um final de semana para que todas as  minhas amigas viessem, mas é completamente impossível reunir todas juntas em uma única data, você sabe, filhos, casamento e toda essa correria do futebol. – Quando ela caba de falar, parece exausta, e eu me pego a observando e pensando se está falando mesmo sério. – Entende?

- Claro... – Tento não parecer sarcástica, mas não funciona...

- Eu sei que você não acredita em casamentos e todo o resto, mas da muito trabalho ser esposa de jogador.

– Aposto que sim, vê-los a cada dois dias, algumas horas por dia, e passar o resto todo do tempo pensando na próxima plástica “segura marido” deve ser muito trabalhoso. – Dou a ela um risinho irônico e a mesma revira os olhos, antes de revidar.

- Às vezes eu fico perplexa com a sua hipocrisia, priminha. – Manuela marca mais um país com o adesivo do “talvez” antes de voltar a me olhar. – Seu príncipe encantado também é um jogador, então, a menos que esteja pensando em deixá-lo, um dia também entrará na fila da plástica “segura marido”.

- Acontece que eu gosto dos meus peitos pp e não, não estou nem um pouco inclinada a entrar nesta fila. – Aperto meus lábios e giro meus pés, estou pronta para sair da sala, quando ela da um tossidinha básica cruzando as pernas por cima da cadeira. 

- Deixa o David ouvir isso... – Ela balança seu celular mostrando o gravador ligado. – Aposto que ele ainda não viu seus peitinhos pp

Ahh Manuela se você soubesse que ele viu mais do que isso... Penso com pena dela por ainda não ter contado tudo que aconteceu entre David e eu durante todos esses dias.

- Você vai vir comigo não vai? – Pede fazendo beicinho parecendo uma criança birrenta. – Seremos só nós três, Adam, você e eu... E depois claro, o resto das meninas...

- Eu preciso trabalhar. – Dou a mesma resposta sempre, mas ela nunca funciona, não com Manuela.

- Pode trabalhar nas horas vagas, eu não vou exigir nada de você, além de sua presença, é claro. – Ela abre um enorme sorriso. – Vai ser divertido, eu prometo.

Diversão, é eu estava precisando mesmo de diversão. Depois de voltarmos do Havaí David e eu mal tivemos um tempo sozinhos, e a coisa mais divertida que eu havia feito nos últimos dias era jogar Flappy Bird no celular, ou ficar contando as ofensas e os defeitos que as fãs dele apontavam em mim. Defeitos que elas nunca notaram antes, quando eu era apenas amiga dele e elas ainda me adoravam. Agora eu era tipo uma vilã de histórias em quadrinhos, só que criada por elas com uma piadinha nova a cada dia.

- Ta legal, onde eu assino? – Pergunto me rendendo, sabendo que essa batalha já estava ganha.

- Eu já comprei nossa passagem de avião e vamos para Itália primeiro, depois para França, você vai adorar, será em um castelo e eu aluguei fantasias de Maria Antonieta, porque você sabe o quanto eu amo aquele filme.

- Porque será...

- Promiscuidade é o meu segundo nome. – Diz toda contente, como se isso realmente fosse uma qualidade. – Agora vem, vamos fazer pipoca e aproveitar que os meninos não estão para olharmos o jogo do “de menor”.

“De menor” Mais conhecido como Adrien Rabiot, jogador do PSG da França, vulgo... Nosso xodó. A maioria das mulheres quando chega à nossa idade e entraram na terrível crise dos vinte e cinco... Só pensa em retroceder, voltar mesmo lá para os tempos da adolescência onde BSB ou Hanson faziam o nosso mundo girar de cabeça para baixo, ou talvez elas se apaixonem secretamente por alguma banda adolescente do momento, tipo 1D ou The... Alguma coisa... Mas no nosso caso, era Rabiot! Porque não bastava termos vários jogadores a nossa volta enchendo nossa paciência o dia todo, ainda precisávamos de nossa dose quase diária daquele menino magrelo dos olhos azuis.

- Ele é tão magrinho, aposto que se ele passasse uma semana aqui em casa a Maria o engordava, ela gosta de fazer isso com todo mundo. – Manuela diz olhando para a mesma que aparece na sala e sai rindo. – Passa a bola para ele, Lucas!

- É o Marquinhos. – Digo, mas ela balança os ombros.

- Tanto faz, não quero ver nenhum dos dois, eu já os conheço e ...Ai está ele... – Nós duas paramos como se estivéssemos hipnotizados olhando para o garotinho magrelo correndo no meio de outros jogadores menores que ele, tão desengonçado, coitado.

Maria suspira logo atrás de nós, provando que também se rendeu aos encantos do “de menor”. Mas logo ela da um pulo ao ouvir o barulho das chaves na porta e então Manuela grita mudando de canal para um documentário sobre o incrível mundo das abelhas africanas. Do qual, graças a deus, eu consegui ler o nome rapidamente antes de me virar e ver David e Dom parados na porta do corredor para a sala com uma cara de “Elas estavam aprontando”

- Você não estavam olhando aquele moleque de novo, não né? – Pergunta Dom arqueando a sobrancelha e Manuela enche a boca de pipoca antes de começa a tossir deixando a resposta para mim.

- Ta, eu admito... Nós estávamos olhando o jogo do PSG... – Falo enquanto me levanto e ela me joga algumas pipocas no cabelo. – Mas é só porque adoramos ver o Thiago jogar...

- O Thiago está no Brasil gravando um comercial para a copa. – David cerra os olhos e não posso competir com isso já que nem percebi se o Thiago estava jogando ou não.

- Ok... era o Rabiot que estávamos olhando. – Eu me entrego fácil...

- É tão fácil de descobrir se está mentindo, a propósito, o Thiago ta jogando sim. – David ri pulando para cima do sofá e pegando o controle do vídeo game na mão. – Não sei por que gostam de ver aquele moleque...

- Garoto feio do caramba. – Diz Dom pegando o outro controle.

Manuela e eu nos olhamos e por incrível que pareça resolvemos não responder, até porque não adiantaria ficarmos falando sozinha enquanto os dois nos ignoravam por causa do vídeo game.

Minutos mais tarde, quando já estou de banho tomado e vestindo meu pijama, sentadinha no canto excluído da sala tentando deixar os arquivos do meu próximo trabalho resumidamente apresentáveis antes de viajar.  Ouço David gemer e atirar o controle no chão enquanto Dom agita os braços pra cima, em completo silencio para não acordar Manuela que parece ter dormido no outro sofá, abraçada em seu mapa precioso.


- O que está escrevendo? – David enlaça suas mãos em minha cintura enquanto arrasta sua cadeira para perto da minha. E eu rapidamente fecho o segundo arquivo aberto, enxerido como é, não vai se contentar em ler apenas o do meu trabalho.

- Nada demais. – Não quero que ele saiba que é uma história baseada em nós dois, isso seria um pouco ridículo e eu não estou pronta para mostrar isso a ele, então fecho a tela para que não consiga perceber nada. – O jogo acabou?

- Não, eu desliguei o vídeo game. – Responde com um bico para o lado.

- Você perdeu? – Pergunto o obvio, caso contrário ele estaria agora mesmo correndo pela casa dando petelecos no Dom.

- É claro que não... – Sua boca se entorta mais ainda e ele deixa um som indignado escapar como se estivesse pensando “Está louca mulher? E eu lá perco pra esse perna de pau?”

- Perdeu sim, duas vezes. – Dom aparece do nada zombando de David. – Eu sou o chefe aqui. – E bate no peito soando totalmente primitivo.

- Cala boca. – David ameaça correr atrás dele, mas assim que Dom some, ele volta ao que estava fazendo, ou seja, me atrapalhando. – Vai dormir lá em casa hoje? – Pergunta abaixando-se ao meu lado piscando os olhos várias vezes, como o gato de botas.  

- Hum, não. – Eu me viro para ele e deixo minhas mãos escorrerem por seus cabelos ainda úmidos. – Quero passar a noite escrevendo e, além disso, sua casa está cheia de mais.

- São só os moleques, nada demais. – Diz ele referindo-se a tropa de amigos que veio passar o fim de ano em sua casa, mas que até o momento haviam esquecido de ir embora.

- Eu sei, mas você precisa sair com eles, ficar com eles, sei lá, David eu preciso mesmo escrever e não há nenhuma chance de eu ir pra lá hoje.

- Ta então eu vou dormir aqui. – Ele me olha rindo como se estivesse tentando me convencer a finalmente ceder.

- Ok, pode ficar, desde que vá mesmo dormir. – Eu me viro para o computador, na esperança que ele note que não ganhará minha atenção. – Não quero Manuela com o ouvido grudado na porta do meu quarto.

- Porque ainda não contou a ela? – Pergunta pela vigésima vez em uma única semana, referindo-se ao fato de eu ainda não ter contado sobre nossa primeira vez no Havaí e depois sobre todas as outras vezes desde então...

- Manuela e Adam iriam fazer suas piadinhas ridículas para o resto da vida, sem falar no questionário que eles criaram para eu responder depois da minha primeira vez.

- Questionário? – Ele se afasta, surpreso, ou talvez assustado.

- Sim, aparentemente eu sou um caso a ser estudado e eles querem os detalhes, por escrito, para ficar guardado para  posterioridade. – E eu resolvo deixa-lo ainda pior, só para  rir um pouquinho. – Há um pergunta bem interessante, sobre qual nota eu daria para seu desempenho, é... Você sabe...

- Opa! Que papo é esse? – Seu rosto está pegando fogo, e eu adoro isso, é tão divertido ver que um cara de vinte e sete anos pode ficar completamente corado com esses assuntos. - Conte logo a eles, nós não precisamos ficar nos escondendo por ai, até parece que estamos fazendo algo errado. – Ele desvia o assunto e eu respiro fundo antes de mentir mais uma vez.

- Eu vou contar!

- Quando? – Ele insiste, porque ele é bom nisso de ser teimoso.

- Quando eu voltar da França. – Ótimo, agora vamos mudar de assunto.

- Ham? – David levanta a cabeça  a apoiando na almofada da cadeira. – O que vai fazer lá, visitar o Rabiot? – Ele ri com as mãos cruzadas sobre o colo, completamente seguro de sua piada.

- Essa opção seria interessante, mas... Humm – Encolho meus ombros e sinalizo com a cabeça para o outro sofá. – Manuela vai fazer um chá de langerie para algumas amigas e ela quer que eu vá... E bem... eu vou.

- Você vai? – Ele se curva para frente com as mãos ainda cruzadas, mas agora apoiando em seu queixo e sei que está pensando... “E porque eu não estou sabendo disso?”

- Sim eu vou. – Confirmo o olhando e deixo escapar... – Porque está me olhando assim, eu não vou pedir permissão pra você.

- E se fosse ao contrário? – Pergunta ele tentando entrar no velho papo de “se eu não posso, você também não pode” acontece que... Eu tinha uma carta na manga, e estava pronta para jogá-la na mesa há dias.

- Do que está falando? Foi para Portugal em dezembro e nem mesmo me perguntou o que eu achava.

- Foi diferente, foi apenas algumas horas e eu perguntei se você queria ir e disse não.

Ok, ele tinha razão... Mas não é como se existisse realmente a possibilidade de eu ir até lá acompanhar ele no mesmo evento em que a “chatinha” com certeza estaria. Primeiro porque de verdade eu me sinto como se tivesse feito o papel da amiga traidora que durante o relacionamento dos dois ficará ali em todo o canto, esperando o momento exato para dar o bote. E segundo, porque eu provavelmente morreria de ciúmes se ela se quer se aproximasse dele, o que ocasionaria em uma enorme briga mais tarde, então sabe como é... Acho que eu prefiro levar aquele certo ditado “ O que os olhos não vêem, o coração não sente” para a vida toda, como um aprendizado sagrado.

- Você podia ficar, ir ao estádio ver o jogo e depois passamos o resto do final de semana juntos. – E lá estava ele, tentando usar o máximo seu poder de persuasão e sedução, fazendo biquinho.

- Humm... Não! – Desvio meu olhar de seu rosto e respondo duramente. – Foi para Portugal para ver... Você sabe quem, e eu não reclamei. Agora é a minha vez de ir até Paris assistir a um jogo do Rabiot, sem que você também reclame, e falando sério, não é como se eu fosse chegar perto dele, já você... Eu não posso dizer o mesmo... – Eu o provoco, e então ele virá às costas e sai andando...

- Quer saber de uma coisa, vá ver o seu “garotinho”...Tanto faz, apenas deixe essa Emily chata na França e volte a ser o que era antes... Eu gostava mais da garota que confiava em mim...

Depois disso, em passos lentos, ele se foi, batendo a porta atrás de si. E Maria passou em minha frente me reprovando com o olhar enquanto Dom não entendia nada me olhando com a maior cara de tonto. Eu sei... Eu admito nos últimos dias eu estava realmente uma chata e desta vez eu nem podia por a culpa na tpm. A verdade era que desde a viajem dele a Portugal em uma festa de caridade, eu ficara assombrada pela duvida das possibilidades de eles terem se visto ou não, eles teriam se cumprimentado? Teriam se abraçado? Mesmo que amigavelmente? Ele teria sentido algo com esse encontro? Eu não saberia dizer, não sem perguntar para o mesmo, mas é claro, que isso não era uma possibilidade... Então eu me acalmo, e tento manter a minha mente afastada desses pensamentos todos e finalmente duas horas mais tarde, depois de eu chegar à conclusão de que fora muito dura com ele, resolvo fechar meu notebook e deixar o último capitulo do resumo pra lá e  ir até seu apartamento fazer algo extremamente difícil para uma pessoa como eu............................. Pedir desculpas!




Eu sei.............Algumas coisas não mudam!


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