Quinta feira, dezessete horas e lá estou eu no metro ou tubo
como alguns gostam de chamá-lo. Lá estou eu voltando para casa depois de mais
um dia de pesquisas para a UCL sobre uma família de ex combatentes da primeira
guerra. Há duas meninas em minha frente camuflando um exemplar de 50 tons de
liberdade atrás de um livro de álgebra, elas soltam suspiros e risadinhas de
vez em quando e enquanto as observo, imagino se algum dia algum livro meu seja
capaz de causar tais reações nas pessoas, mas logo me recolho a minha
insignificância e digo mentalmente para mim mesma, “Não, não será, a menos que crie um personagem tão ou mais
pornográfico que Grey”. O que é obvio, jamais conseguiria, e é isso que as
adolescentes procuram hoje em dia, algo proibido. Algo absurdamente
constrangedor que não possa ser lido em um metro, a menos que ele esteja
escondido atrás de algo no qual as pessoas jamais desconfiaram.
sábado, 15 de março de 2014
domingo, 9 de março de 2014
Capitulo 1
A primeira vez que bebi o suficiente para ficar embriagada foi
no dia da minha formatura na faculdade, eu estava contente por finalmente poder
me livrar da casa dos meus pais e também por ter, em minha bolsa, minha
passagem de ida sem volta para Londres. Naquela noite depois de beber duas
taças de champanhe e alguns copinhos de vodca com meus amigos naquela
brincadeira estúpida de “quem vira mais” acabei beijando o garoto mais
insuportável e arrogante com quem infelizmente passei meus quatro anos de curso
dividindo a mesma sala... Antony, ou Tony...Mas ele não vem ao caso, pelo menos
não agora. O que de fato, quero deixar claro, é que, depois daquele dia, eu
acreditava que jamais fosse tomar um porre tão igual ou semelhante, que pudesse
me deixar tão mal a ponto de não saber onde estava ao acordar... Mas eu estava
enganada. E não! Eu não estou falando daquela vez que acordei ao lado de David
em meu quarto, mas sim, neste exato momento em que estou encarando o teto a
mais de uma hora, eu suponho, tentando encaixar minhas idéias no lugar e me
lembrar de como vim parar em um quarto de hotel em um castelo na França.
É claro que eu me lembro de todo o resto que antecedeu este
incidente, mas não me lembro de mais nada depois do minuto em que senti o gosto
de everclear descendo por minha garganta.
- Buongiorno!! – Minha cabeça retumba assim que levo a mão e
atendo meu celular no segundo toque, e ouço David gritar com entusiasmo no
outro lado da linha.
- Bonjour. – Respondo a ele e estranhamente ouço o mesmo
comprimento vindo do banheiro, talvez Adam esteja ali, ou a pessoa responsável
por limpar o quarto.
- O que aconteceu com a Itália? – Diz ele com sua costumeira
voz brincalhona no telefone.
- Itália ficou para trás, Manuela decidiu fazer o chá em
Paris a noite e aqui estamos. – Digo, não deixando claro que na verdade
qualquer tipo de chá tenha passado longe de nossa mesa. – É bom ouvir sua voz.
- Você bebeu! – Solta ele, não perguntando, mas afirmando. –
Com certeza bebeu.
- Não me acuse você me conhece e eu não bebo. – Minto
tentando me levantar da cama, mas assim que me dou conta de que estou vestida
com roupas de época o tombo no chão é inevitável. – Droga.
- Emily? – David grita e eu me abaixo para pegar o celular
que foi parar embaixo da cama. – Quanto
você bebeu?
- Isso faz diferença? – Não faz, mas sei bem aonde ele quer
chegar ao ouvir seu risinho abafado no outro lado da linha.
- Faz, porque eu adoraria ter isso gravado e usar em uma
possível chantagem mais tarde. – Debocha e eu o imagino com aquele sorriso
idiota estampado em seu rosto. – Quando você volta?
- Não faço idéia, talvez hoje mesmo se eu conseguir fugir
daqueles dois malucos. – Eu finalmente consigo me levantar, mas quando vejo meu
reflexo no espelho, desejo não ter saído do chão. – Ah não.
- Não, você não vem hoje?
- To parecendo uma prostituta. – Digo para o meu reflexo,
mas tenho certeza que ele conseguiu ouvir.
- Acho bom estar brincando. – David rebate.
- Não estou. – Eu me afasto e tiro uma foto da prova para
que ele veja, penso em não enviar, mas tenho certeza que ele não usaria essa
contra mim em nenhuma chantagem. Então clico em enviar e espero para ouvir o
seu grito do outro lado.
- Acho bom estar em casa quando eu voltar do treino hoje à
tarde. – E então desliga. Sem me dar qualquer tipo de chance para me defender...
Ok, não foi à reação que eu esperava, mas na verdade eu não esperava nada além de
gritos, então não faz diferença.
- Où sont mes pantalons?
Eu me viro e lá está o dono da voz vinda do banheiro logo
que atendi o telefonema de David. Está me olhando com seus grandes olhos azuis,
esperando que eu responda, mas tudo que consigo pensar é em correr até o abajur
mais próximo, pega-lo e ameaça-lo para que saia de meu quarto, mas não posso
fazer isso. Primeiro porque até chegar ao abajur eu levaria outro tombo
daqueles com aquela saia de prostituta estilo Maria Antonieta, e segundo,
porque eu sabia quem era ele e seria um escândalo enorme se eu fizesse isso com
Adrien Rabiot.
- Emily, nós vamos sair em meia hora e... – Adam abre a
porta e da de cara comigo completamente encurralada no canto da parede e um
Adrien quase completamente nu enfrente a porta do banheiro. – Ah meu deus. –
diz ele pausadamente. – O que foi que você fez Emily?
- Nada! – Respondo, porque é isso que eu fiz, ou pelo menos
acho que fiz... – Eu não fiz nada.
- Bom, não é o que parece. – Adam caminha em direção a uma
calça cobrindo uma cadeira e entrega a Adrien, que entra novamente no banheiro
e então volta a me olhar espremendo os lábios. – Acho que alguém aqui não é
mais virgem, e eu não estou falando do garoto menor de idade ali... – Diz
apontando para o banheiro.
Meu coração acelera com suas palavras e juro que posso
sentir minhas pupilas dilatarem, tamanho é o meu desespero por imaginar o que está se passando na mente suja de Adam.
Sinto uma vontade enorme de pegar a cadeira onde ele está apoiado com aquele
risinho sórdido preso nos cantos dos lábios e bater na cabeça dele até que
volte a pensar com clareza. Mas assim que começo a prestar atenção em minha
volta e nas várias roupas espalhadas pelo quarto começo a ficar assustada com a
possibilidade de ele estar certo. Não com a virgindade, mas como a
possibilidade do que possa ter acontecido noite passada, e então o desespero
toma conta de mim.
- Ahh meu deus... – Sussurro em tom choros e caio sentada no
chão, batendo minha cabeça na parede. – O que foi que eu fiz? Eu não me lembro
de nada...
- Há o velho papo de bêbado... – Adam tira a peruca amarela
de minha cabeça e se abaixa em minha frente. – Querida, veja pelo lado bom,
pelo menos você se livrou do seu probleminha ai em baixo.
- Adam, eu pedi pra você não demorar e... – Manuela também
entra no quarto e começa a visualizar a cena toda, então começa a rir. – Minha
nossa.
- Puis-je vous appeler alors? – Adrien me olha e eu não faço
idéia do que esteja dizendo.
- Acho que ele quer te ligar mais tarde. – Adam se levanta e
então coloca sua mão nas costas de Adrien o acompanhando até a porta,
balbuciando qualquer coisa em francês que eu não entendo. - Vous pouvez
maintenant quitter agissant. Vous n'êtes pas aussi bon, il est préférable de
continuer à jouer au football. – Então os dois gargalham, e eu começo a chorar,
em desespero, parecendo uma adolescente idiota que está com medo de contar aos
pais o que aprontou no final de semana.
- Vai ficar com dor de cabeça se continuar batendo assim. –
Manuela me puxa do chão e eu fico de pé em sua frente em um estado
completamente deplorável que posso jurar ainda estar bêbada. – Vamos tomar um
banho e depois conversamos sobre ontem à noite. – Diz completamente calma me
carregando até o banheiro.
Uma hora mais tarde, depois de já termos feito o check in e passado
pela imigração da Eurostar, lá estamos nós sentados frente a frente em uma
poltrona quádrupla. Tento ignorar os olhares de Manuela e Adam, mas é
impossível quando apenas uma pequena mesa nos separa. Não quero falar sobre o
que aconteceu. Porque não faz sentido tocar em um assunto obvio, mesmo que eu
não me lembre dos minutos que antecederam a minha entrada naquele quarto, eu me
lembro de estar dançando com Adrien noite passada e também de não sentir
qualquer culpa alguma naquele momento.
- Você dormiu com o de menor... – Adam explode rindo como
estivesse guardando desde que saímos do hotel e só para quando um senhor da
poltrona ao lado faz “shii” pra ele. – Desculpa, mas é hilário demais pra não
rir. – Ele tapa sua boca com as mãos para abafar o som de seu deboche e Manuela
faz o mesmo.
- Vai, pode rir... – Digo olhando pra ela. – Está morrendo
de vontade.
- Desculpa, mas Adam tem razão, é muito engraçado. – Ela está
quase chorando, cretina!
- Não do meu ponto de vista. – Eu me ajeito na poltrona
completamente incomodada pelo assunto e então a risada dos dois morre ali. – Eu
só, não acredito que eu fiz isso, ele tem dezoito anos, é tão estúpido que mal
consigo imaginar.
- Na Inglaterra ele não é considerado menor. – Manuela tenta
fazer uma piadinha, mas não funciona. – Eu já dormi com um garoto de dezoito,
e...
- Por favor, não tente me animar, você tem tantas ou mais
experiências do que qualquer pessoa neste trem, então, não vale. – Eu respondo,
mas logo me arrependo porque não tenho o intuito de ofende-la, mas sim de
faze-la se calar. – Sei que vai ser difícil, mas tentem não fazer nenhuma
piadinha sobre esse assunto quando estivermos em casa...
- Oh querida, é claro que não, mesmo assim não é como se
você estivesse pensando na possibilidade de contar isso ao David. – Adam faz
biquinho me interrompendo e respira parecendo aliviado. – Seu segredo estará
para sempre bem guardado, e podemos tomar a famosa frase de Vegas como exemplo
e modifica-la para “O que acontece em Paris, fica em Paris.”. – Ele me aponta o
dedo completamente satisfeito por ter criado um novo bordão.
E depois disso não há mais nada o que fazer a não ser
ignorá-los de novo, e fingir que estou dormindo. Mas na verdade, enquanto fecho
os olhos, tudo que posso ver é o rosto de David completamente desapontado em
minha frente quando eu finalmente contasse a ele sobre o que aconteceu em Paris. E levando em
consideração o fato de ele ter desligado o telefone na minha cara por eu estar
vestida de Maria Antonieta em uma versão prostituta, eu preferia, naquele
momento, nem imaginar quais seriam as suas ações diante de minha confissão.
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